A Experiência de Megalópoles

Luan

por Elenice Milani | 19 de Dezembro de 2024

Imagem do filme "Magalópoles" de Francis Ford Coppola.

   
        A experiência de Megalópoles, filme épico e audacioso de Francis Ford Coppola, evoca sentimentos complexos e ressonantes, quase como a leitura de Finnegans Wake de James Joyce. Ambos são criações que demandam um olhar além do imediato, uma disposição para o estranhamento e a angústia de buscar significado onde ele parece escapar.
        Como Joyce, que transformou a linguagem em um mosaico de significados, Coppola propõe, em Megalópoles, uma narrativa fragmentada e quase onírica, onde o público se vê diante de uma colcha de retalhos que revela o inconsciente do criador. Essa abordagem remete à ideia lacaniana do vazio estrutural que move o desejo humano, sempre em busca de algo inalcançável. O filme de Coppola não é uma experiência de respostas; é uma provocação de incompletude, uma obra que reverbera a própria estrutura do psiquismo, onde o desejo habita o espaço entre o que é dito e o que permanece inacessível.
        Em Megalópoles, o diretor oferece uma Nova Roma futurista — um cenário distópico para debater a morte da democracia e as ambições de poder que desestabilizam qualquer ideal de sociedade perfeita. Esse cenário, ao mesmo tempo épico e surreal, não nos conduz a uma moral ou a uma solução clara, mas, ao contrário, intensifica a experiência de um fluxo de consciência, de uma sucessão de cenas que espelham a associação livre, o método fundamental da psicanálise.
        Coppola, ao criar esse filme, desafia a si mesmo e o público, explorando uma narrativa visual que nos suga, sem oferecer uma direção clara, mas abrindo espaço para interpretações que se multiplicam e se fragmentam. Em última instância, Megalópoles pode ser lido como uma metáfora da própria trajetória de Coppola, um herói que, tendo experimentado sucessos e fracassos, se lança agora ao seu projeto mais arriscado — um testamento à criatividade que, segundo Lacan, tem na invenção o amparo do “sinthome” que nos permite lidar com o Real.
        Assim como Joyce e Coppola entendem o vanguardismo como uma necessidade de correr riscos e explorar o não dito, Megalópoles se apresenta como um filme que não se compromete com a expectativa do público, mas com a liberdade criativa de seu diretor. É uma obra aberta que, mais do que oferecer respostas, nos convida a pensar sobre o desejo, o vazio e a invenção — as forças que moldam a nossa própria condição humana.

Elenice Milani

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