Blue Jasmine (2013)
por Elenice Milani | 07 de Janeiro de 2025
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Cate Blanchett no filme "Blue Jasmine" (2013), dirigido por Woody Allen |
A análise de Blue Jasmine nos oferece um olhar profundo sobre os conceitos de alienação e separação na psicanálise lacaniana. Jasmine é uma personagem que personifica o colapso entre o que ela acreditava ser e o vazio que tenta evitar a todo custo. Sua alienação é explícita: ela se prende a uma fantasia de vida perfeita, construída a partir do desejo do Outro — no caso, o marido e o status social que ele proporcionava. Esse mergulho na alienação a mantém desconectada da própria verdade, protegida por um "mundo cor-de-rosa" que inevitavelmente desmorona.
Quando Jasmine denuncia o marido, ela provoca a ruptura com essa ilusão, mas não sem um custo devastador. O gesto não é apenas um ato de vingança, mas também um “passar ao ato” que evidencia seu colapso subjetivo. Sem o suporte do marido e da fantasia, Jasmine se vê face a face com o real, uma verdade sobre si mesma que ela não deseja encarar.O filme destaca a fragilidade humana diante da perda e do desejo. A fala vazia de Jasmine — esse discurso sem destinatário, desconectado do presente — reflete a sua tentativa de permanecer na fantasia enquanto evita a dor do real. Ela está eclipsada em suas lembranças, tentando recuperar o gozo perdido de um passado idealizado.
Lacan nos ensina que alienação e separação são processos que se entrelaçam. Na alienação, o sujeito se entrega ao desejo do Outro, abrindo mão de si mesmo. Já na separação, surge a possibilidade de se reconhecer como sujeito desejante, mas isso também traz à tona a falta no Outro. Jasmine, ao romper com seu mundo fantasioso, vivencia um colapso narcisista, mas algo de seu desejo começa a emergir, ainda que instável e transitório.
No final, o isolamento de Jasmine não é apenas físico, mas psíquico. Sentada sozinha no banco, sua fala desconectada revela que, mesmo perdida, algo de sua verdade foi tocado. É um ciclo de desconstrução que permite uma nova perspectiva sobre sua história, ainda que ela, talvez, nunca consiga sustentá-la plenamente.
Blue Jasmine, com sua narrativa de dor, perda e ilusão, nos convida a refletir sobre as fragilidades humanas, o vazio que tentamos evitar e o custo de confrontar nossas próprias fantasias.
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